“Escrevo muito depressa porque escrevo com raiva, com muita raiva do estado em que se encontra o povo brasileiro...” Plínio Marcos
Estará o ser humano fadado a uma eterna e desleal disputa em tornodo poder e de sua capacidade de dominar e subjugar o próximo? Assassinos, prostitutas, malandros e desajustados de todos os tipos vivem, diante dos olhos estatelados da platéia, situações de violência extrema e berram a sua angústia, a tortura da solidão, a miséria da decadência física, em tom de desafio, mas também na busca desesperada de um sentido para a vida. “Será que somos gente?” berra a prostituta. A pergunta, com outras palavras, foi repetida ao longo de toda a obra do escritor. Sem resposta.
Plínio Marcos (1935 – 1999) iniciou a sua carreira teatral em 1958, com “Barrela”, a peça provocou escândalos, mas foi em 1966 que o autor se tornaria conhecido e respeitado nacionalmente, com "Dois perdidos numa noite suja".
“Ver ‘Dois Perdidos Numa Noite Suja’ não é mole. Tem bastante humor pra gente descarregar a vergonha, o medo e a covardia que a honestidade do autor nos provoca. É a peça mais suja e cruel jamais escrita no Brasil. Por isso linda e necessária, importante e verdadeira”. Roberto Freyre
As peças seguintes: “Navalha na carne” (1967), “Balbina de Iansã” (1970), “Quando as Máquinas Param” (1971), “Abajur Lilás” (1975), “Querô” (1979), entre outras, foram encenadas, proibidas, perseguidas, louvadas, discutidas em nível moral, mas nunca ninguém duvidou de suas qualidades teatrais, a densidade dramática, a força lancinante dos diálogos. Por sua autenticidade, as peças de Plínio não perdem nada quando lidas. Podem até ganhar alguma coisa, permitindo uma pausa para pensar ou amenizar o impacto de sua crueza. A partir da década de 80, suas peças abraçaram temas religiosos e esotéricos, como “Madame Blavatsky” (1985) e “A Mancha Roxa” (1988). Plínio Marcos traz para o palco a linguagem crua e palpitante da miséria, da prostituição, da marginalidade, arrancando do imundo traços de humanidade. Suas peças, contos e romances-reportagens não mistificam o real, mas o reviram pelo avesso e demonstram um conhecimento profundo de seus meandros e segredos.
“Ver ‘Dois Perdidos Numa Noite Suja’ não é mole. Tem bastante humor pra gente descarregar a vergonha, o medo e a covardia que a honestidade do autor nos provoca. É a peça mais suja e cruel jamais escrita no Brasil. Por isso linda e necessária, importante e verdadeira”. Roberto Freyre
As peças seguintes: “Navalha na carne” (1967), “Balbina de Iansã” (1970), “Quando as Máquinas Param” (1971), “Abajur Lilás” (1975), “Querô” (1979), entre outras, foram encenadas, proibidas, perseguidas, louvadas, discutidas em nível moral, mas nunca ninguém duvidou de suas qualidades teatrais, a densidade dramática, a força lancinante dos diálogos. Por sua autenticidade, as peças de Plínio não perdem nada quando lidas. Podem até ganhar alguma coisa, permitindo uma pausa para pensar ou amenizar o impacto de sua crueza. A partir da década de 80, suas peças abraçaram temas religiosos e esotéricos, como “Madame Blavatsky” (1985) e “A Mancha Roxa” (1988). Plínio Marcos traz para o palco a linguagem crua e palpitante da miséria, da prostituição, da marginalidade, arrancando do imundo traços de humanidade. Suas peças, contos e romances-reportagens não mistificam o real, mas o reviram pelo avesso e demonstram um conhecimento profundo de seus meandros e segredos.
Plínio tinha um compromisso radical com o ser humano que a sociedade marginaliza, com uma fatalidade brutal. Consegue ainda colocar em questionamento os seguintes aspectos: público e privado, passado e presente, psíquico e social. Fazendo com que as personagens representadas saiam da representação cênica para o cotidiano social.
O universo de Plínio Marcos nos traz a realidade do submundo, visto de um ponto de vista que não é o do pobre contra o rico, mas o da classe microcosmica em si, que vive em seu pequeno mundo dentro de um Brasil cruel, onde um sapato vira o sentido da vida, sem um pisante a personagem Tonho (“Dois Perdidos Numa Noite Suja”) não tem condições de melhorar de vida dentro da sociedade em que vive e também não tem a ajuda do seu companheiro de quarto, que por sua vez tem o sapato, mas não o empresta. Ainda em “Dois Perdidos” a ação é colocada em cena trazendo um jogo de opressão, que em determinado momento muda de opressor.
Plínio Marcos bebe na fonte mais pura do realismo, tornando suas personagens, seres de carne e osso, com uma organicidade quase agressiva.Excluídos e cheios de desesperança, esses seres buscam por uma identidade qualquer que os torne menos marginais.Em termos políticos, a situação social do país não mudou muito, ou seja, há hoje mais gente vivendo no abandono e no desespero em que se apresentam as personagens de Plínio Marcos. Quem cruzar por este caminho poderá, investigar o que sobra do ser humano privado de liberdade e esperança. Sobra pouco, e no entanto, esse pouco ainda lhe pode ser tirado.Esse é o princípio que torna a obra de
Plínio Marcos contemporânea, revelando-nos na desesperança desses seres marginais a fé na reconstrução de algo melhor nesse mundo tão corrompido pela falta de ética e moral.
Na peça “Abajur Lilás”, as personagens percorrem uma trajetória que vai dar mais uma degradação física e normal até uma revolta pela existência dessa miséria que nos invade. Cafetões, prostitutas, mocós e o escambau, eis “Abajur Lilás”, a peça em que Plínio Marcos mergulhou com mais contundência no universo daqueles que vivem à margem da vida. O patético retrato do submundo se amplia para macrocomos do duro relacionamento na vida atual. Despidas de valores que transmitem transcendência á vida humana, as personagens exemplificam o horror da exploração, quando um se converte em objeto para o outro e só resta o gosto da miséria.
Os textos de Plínio são obras escritas há 30, 40 anos que retratam fielmente um Brasil que não aparece na mídia, que está fora da sociedade que não pertence à classe média consumista. Plínio sempre dá um tapa na cara de quem o admira e ri da pequenez de quem o abomina.
Em “A Mancha Roxa”, as detentas de uma sela em um presídio descobrem estar contaminadas pela AIDS e indignadas querem passar a doença para o mundo inteiro, eis que a frase “Pra cada uma, mil...” vira uma voz só dentro do presídio e tenta ser a resposta desesperada ao beco sem saída imposto pelo absurdo sistema carcerário, despreparado para resolver os menores problemas, quanto mais o risco de uma doença que assume proporções macrocosmicas.
Não é apenas nas peças que a força de expressão de Plínio Marcos se destaca. Livros de prosa como "Querô, uma reportagem maldita", "Na barra do Catimbó", "Prisioneiro de uma canção", entre outros, são considerados obras importantes, por sua linguagem e temática. Plínio Marcos não completou o curso primário e dizia que escrevia quando estava incomodado com alguma coisa. Seus textos incomodaram muita gente, e é justamente desse incômodo que sobrevive a boa literatura. Ele soube traduzir com sinceridade e beleza as falas dos que ficaram à margem da sociedade. Esteve sempre, como poucos, profundamente mergulhado na realidade, aquela que está além dos adjetivos fáceis e das tiradas engraçadinhas.
Se estivesse vivo, o dramaturgo Plínio Marcos completaria 73 anos em 2008. O autor entrou para história do teatro como “maldito” pelo conteúdo ácido e mordaz de seus textos que incomodavam a censura durante a ditadura militar, mas sempre atraíram crítica e público.
“Eu sou de Santos, sou da Baixada Santista. Sou quem sou porque sou de lá. Porque meu axé é plantado junto da minha gente e porque eu nunca esqueço os compromissos assumidos na esquina do meu velho quarteirão.” Plínio Marcos
Por: Angela Maria Prestes e Thiago Nascimento
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