sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A formação do Teatro de Arena em São Paulo e seus desdobramentos históricos (trabalho feito para a aula de teoria, mestre Rogério Toscano, 15/09/08



O Teatro de Arena foi fundado na cidade de São Paulo, em 1953, como uma alternativa à cena teatral da época, que tinha em destaque o TBC – Teatro Brasileiro de Comédia, com um repertório iminentemente internacional, com produções sofisticadas e que dialogavam pouco com a realidade nacional. Para além disso, o TBC consolidara-se como uma companhia estável, com sede própria e um repertório de peças com unidade de realização artística, quadro esse inédito na cidade de São Paulo.



Influenciado pelos moldes do TBC e pela vivência na Escola de Arte Dramática, José Renato Pécora, juntamente com outros alunos da EAD, lança uma nova proposta de espaço cênico, com a montagem da peça O Demorado Adeus, de Tennessee Williams em formato de arena. Apesar de a peça, encarada por muitos como exercício cênico apenas, não ter explorado toda gama de possibilidades que este novo espaço cênico oferecia, ela foi o primeiro movimento para a criação do Teatro de Arena, dois anos depois.
Em 1953, José Renato começa a traçar o que seria o Teatro de Arena.

Mais do que um grupo ou uma companhia estável, era um espaço de transformação do teatro brasileiro. A escolha por este espaço em arena se deu inicialemente não por uma subversão estética, mas sim pela necessidade de uma alternativa às poucas e caras salas de espetáculo que existiam em São Paulo. Também, por permitir montagens mais baratas (pela ausência de grandes cenários e indumentária) e pela mobilidade do espetáulo teatral, pela flexibilidade do uso do espaço, podendo alcançar diferentes lugares da cidade, inclusive os mais periféricos que não tinham edifícios teatrais. Essas características por si só, são reflexo do posicionamento econômico, político e engajado desse novo fazer teatral.


O espaço cênico da arena privilegia o trabalho do ator, e não mais a encenação. Pelo formato do espaço, com a platéia concêntrica, não há mais o uso de grandes cenários, que é substituido por elementos cênicos essenciais para a peça, com o cuidado de não atrapalhar a visão do espectador. Com isso, ganham destaque a luz e o som, que compõe mais ativamente o espetáculo, substituindo a função das coxias e cortinas, e também definindo o começo e o fim do espetáculo.



“A modernidade da proposta parece implícita na organização da companhia: o teatro em arena deve introduzir um repertório atualizado, em dia com todas as experiências inovadoras da dramaturgia mundial. Significativamente, as primeiras produções delineiam uma afinidade de peças contemporâneas de estilo marcadamente intimista, que exigem uma execução cuidadosa dos detalhes das personagens.” (Mariangela Alves de Lima)


Com o tempo, a companhia passou a refletir sobre a possibilidade de novas peças serem encenadas neste formato, e não mais apenas as de caráter intimista. Também trouxeram para a cena, textos de cunho social e com temáticas nacionalistas, culminando com a montagem da peça Eles não usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, em 1958. Foi o primeiro texto montado no Brasil em que os operários e a favela eram os temas centrais da peça, sendo protagonistas da ação. O sucesso da peça, que ficou mais de um ano em cartaz, abriu espaço para o surgimento de um movimento chamado Seminários de Dramaturgia, sugerido por Augusto Boal, que tinha por objetivo revelar e expor a produção de novos autores. Daí, destacaram-se entre outros, Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha.

A partir daí, além de buscar uma dramaturgia nacional, o Arena passou a incentivar a nacionalização dos clássicos. Nessa fase, a companhia passa a contar com a colaboração assídua de Flávio Império na criação de cenários e figurinos.

Na excursão carioca de “Eles não usam Black-Tie”, Oduvaldo Vianna Filho e Milton Gonçalves deixam a companhia mais tarde criam os CPCs da UNE (Centros Populares de Cultura), iniciando uma nova fase da produção teatral, militante e engajada.

Depois deles, José Renato deixa a companhia em 1964 para dirigir o TNC – Teatro Nacional de Comédia do Rio de Janeiro, deixando à frente do Arena, Guarnieri e Boal. Com a nova realidade política do país, eles repensam o repertório (estavam então com a peça Tartufo, de Moliére). É preciso algo novo, para responder à nova situação e driblar a censura, que proíbe a representação de peças brasileiras realistas que faziam parte do repertorio da companhia.

Em 1969, quem desliga-se do Teatro de Arena é Guarnieri. Em 1971, quando montava Arena conta Bolívar, Boal é preso e exilado, ficando a companhia sob responsabilidade do seu autor, Luis Carlos Arutin.

Por fim, em 1972, o Arena fecha suas portas como companhia e o espaço passa às mãos do extinto SNT – Serviço Nacional de Teatro. A partir dos anos 90 e com o nome de Teatro Experimental Eugênio Kusnet, a sala da Rua Teodoro Baima abriga elencos de pesquisa da linguagem teatral.



O Teatro de Arena transformou o fazer teatral brasileiro, influenciando até hoje inúmeras companhias e dramaturgos. Ele abriu o espaço não só cênico, quebrando as barreiras do palco italiano, mas também espaço para pensarmos num teatro nacional, mesmo que ainda centrado na esfera política.



“ Nóis não usa os bleque tais” (samba de Adoniran Barbosa para a peça Eles não usam Black-Tie)



O NOSSO AMOR É MAIS GOSTOSO

NOSSA SAUDADE DURA MAIS

O NOSSO ABRAÇO MAIS APERTADO

NÓIS NÃO USA AS BLEQUE TAIS


MINHAS JURAS SÃO MAIS JURAS

MEUS CARINHO MAIS CARINHOSO

SUAS MÃO SÃO MÃOS MAIS PURAS

SEU JEITO É MAIS JEITOSO

NÓIS SE GOSTA MUITO MAIS

NÓIS NÃO USA AS BLEQUE TAIS
Por: Ana Sharp, Alexandre Maldonado e Letícia Leal

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